segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A ALEGRIA DE CRIAR



     25 encontros foi o tempo pensado para que a alquimia acontecesse.

     Teríamos de nos conhecer, superar a fase de estranhamento e desconfiança, permitir ao corpo fazer movimentos até então nunca ousados, conceber um roteiro, montar e ensaiar, ensaiar e ensaiar.


      Muito pouco tempo. Mas será que vocês topam o desafio?


Elas toparam, eu topei, Tiago Aguiar assinou em embaixo. Só há um jeito de saber se esse negócio vai dar certo: experimentando.


As oficinas em que realizávamos os jogos do Teatro do Oprimido foram quase sempre marcadas por uma áurea de alegria, ainda que tivéssemos dias de briga, de desânimo e de falta de concentração. 

     À medida que fomos entrando na construção do roteiro o clima se intensificou: começamos a tocar em histórias reais, muito doloridas, opressões tão fortes que cada uma ali já passou, tantas injustiças que sentíamos o coração apertado, uma angústia. Eu e Tiago fomos nos preocupando: será que não estaríamos tocando fundo demais? Que suporte poderíamos oferecer além do teatro?



    Bom... amizade. E amizade entre pessoas com histórias de vida muito diferentes. Ainda entra aí uma questão muito forte: tínhamos uma visão de mundo diferente. Grande parte de nossas mulheres tinha sido criada no Candomblé ou se encontrou com essa religião de forma muito profunda em algum momento de sua vida.


Alguns choques foram inevitáveis.
 
Mas talvez seja igual jogar capoeira: tem que correr o risco!
 
De tudo isso, nasceu o espetáculo, com afoxé, capoeira, percussão, com cenas de denúncia, de opressão, da luta da mulher para superar os obstáculos provenientes do machismo, da pobreza, da falta de informação.



       E a gente continua se conhecendo, pensando essa experiência, buscando formas de crescer enquanto grupo, superar as limitações de cada uma. Porque o teatro, como legítima arte humana, acabou nos incentivando a fazer uma travessia: nos tirando de uma margem segura e nos levando para outra que ainda está em construção.
         Na outra margem moram os nossos sonhos. 

 Carolina Santos 
Coordenadora Geral 

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