A ALEGRIA DE CRIAR
Teríamos de nos
conhecer, superar a fase de estranhamento e desconfiança, permitir
ao corpo fazer movimentos até então nunca ousados, conceber um
roteiro, montar e ensaiar, ensaiar e ensaiar.
Muito pouco tempo. Mas
será que vocês topam o desafio?

As oficinas em que
realizávamos os jogos do Teatro do Oprimido foram quase sempre
marcadas por uma áurea de alegria, ainda que tivéssemos dias de
briga, de desânimo e de falta de concentração.
À medida que fomos
entrando na construção do roteiro o clima se intensificou:
começamos a tocar em histórias reais, muito doloridas, opressões
tão fortes que cada uma ali já passou, tantas injustiças que
sentíamos o coração apertado, uma angústia. Eu e Tiago fomos nos
preocupando: será que não estaríamos tocando fundo demais? Que
suporte poderíamos oferecer além do teatro?
Bom... amizade. E
amizade entre pessoas com histórias de vida muito diferentes. Ainda
entra aí uma questão muito forte: tínhamos uma visão de mundo
diferente. Grande parte de nossas mulheres tinha sido criada no
Candomblé ou se encontrou com essa religião de forma muito profunda
em algum momento de sua vida.
Mas talvez seja igual jogar capoeira: tem que correr o risco!
De tudo isso, nasceu o
espetáculo, com afoxé, capoeira, percussão, com cenas de denúncia,
de opressão, da luta da mulher para superar os obstáculos
provenientes do machismo, da pobreza, da falta de informação.
E a gente continua se
conhecendo, pensando essa experiência, buscando formas de crescer
enquanto grupo, superar as limitações de cada uma. Porque o teatro,
como legítima arte humana, acabou nos incentivando a fazer uma
travessia: nos tirando de uma margem segura e nos levando para outra
que ainda está em construção.
Na outra margem moram os nossos sonhos.
Na outra margem moram os nossos sonhos.
Carolina Santos
Coordenadora Geral
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